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“Gostava de compreender porque raio é que não há dia do homem!!???!!! Quando houver também festejo o dia da mulher.”

Li isto e comecei a ferver. Sim, sou bastante incendiária no que toca a determinadas questões. Começo a escrever ainda com as mãos trémulas e só me ocorre uma frase que figurava há anos num cartaz: “I cannot believe I still have to protest this shit”.

O dia 8 de março foi adoptado como o Dia Internacional da Mulher pelas nações Unidas porque a igualdade de género é uma questão de direitos humanos. A desigualdade, a discriminação afecta-nos a TODOS: Homens e mulheres!

Por isso: Não! Não é um dia para dar flores à namorada, mulher e afins, para isso há o São Valentim. Não é o dia para ser condescendente e elogiar as mulheres maravilhosas que tem à sua volta e levá-las a jantar fora,  para não ter que pôr a mesa e meter a loiça na máquina só para mostrar que é um fofinho solidário. Não é o dia para ir sair com as amigas e publicar fotos de homens tão oleosos como pastéis de bacalhau enrolados em laços vermelhos, enquanto se dá largas às fantasias sexuais. Não, não é um dia para envergar o seu melhor sorriso numa t-shirt com um slogan feminista, giro e fashion. Não, não é um dia para achar que pode dizer o que muito bem lhe apetece quando há milhões de mulheres a serem violadas, mortas, apedrejadas, humilhadas, discriminadas, abusadas só porque são mulheres. Não, não é o dia do bebezão grande choramingar porque não tem um dia só para ele.

O dia 8 de março não se comemora. Não é uma festa! O dia 8 de março assinala-se. É um dia para Homens e Mulheres reflectirem e se consciencializarem que longe do raio de 2 cm à volta do nosso umbigo:

  • Mulheres na Síria são vítimas de abusos sexuais em troca de ajuda humanitária, traduzindo: são forçadas a fazer sexo em troca de alimentos.
  • Todos os anos 15 milhões de meninas são obrigadas a casar.
  • Todos os anos 5 mil mulheres e raparigas são mortas por chamados crimes de honra, regra geral cometidos pelos pais, irmãos ou maridos.
  • O último relatório da UNICEF indica que pelo menos 200 milhões de raparigas e mulheres foram vítimas de mutilação genital em 30 países  (sim, são mesmo 200 milhões!).
  • No Brasil, um homem ejaculou para cima de uma mulher dentro de um autocarro mas o juiz determinou que ele fosse solto pois não viu constrangimento ou tão pouco violência.
  • Na União Europeia cerca de 83 milhões de mulheres com mais de 15 anos foram vítimas de assédio e hoje, António Guterres, secretário-geral das nações unidas refere que o assédio e os abusos sexuais têm prosperado “nos locais de trabalho, nos espaços públicos, nos lares e em países que se orgulham do seu desempenho em matéria de igualdade de género.” E ainda dizem que não há assédio sexual em Portugal?!! Posso ir ali vomitar e já venho?
  • Em Portugal, no ano passado, um homem agrediu violentamente a mulher e um juiz atenuou a pena pelo facto da mulher ter um amante, segundo ele “o adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem”. Só falta instituirmos o apedrejamento público até à morte da mulher adúltera, à triste semelhança de muitos outros países.
  • O ano passado, o eurodeputado Korwin-Mikke disse, em pleno parlamento europeu, que as mulheres “são mais fracas, mais pequenas e menos inteligentes” do que os homens e, por isso, devem ganhar menos. Isto aconteceu em 2017 e não na época medieval, aconteceu no parlamento europeu e não na sociedade recreativa da Rechousa. Sendo que em nenhum dos dois deveria ser admissível.

Podia ficar aqui até amanhã citando exemplos mais ou menos mediáticos, mas para finalizar queria ainda dizer que várias vezes me perguntam, nas poucas entrevistas que dou, como concilio tudo: o meu trabalho como actriz, nutricionista e blogger, com o facto de ser mãe.
Infelizmente, não tive a presença de espírito para responder que tanto quanto sei, não me recordo de ter ganho o Euromilhões… Mas não me recordo, tão pouco, de alguém questionar o pai da Francisca, ou outro progenitor qualquer, se ele não estaria a pôr em causa o seu papel de pai porque tem que se esmifrar a trabalhar para conseguir pagar as contas. Fez-me lembrar o caso da primeira-ministra da Nova Zelândia, quando, após a sua eleição a imprensa a bombardeava com questões do género: “vai ser capaz de desempenhar as suas funções e ser mãe?”

Hoje, não ia escrever nada sobre a data, tinha o post do ano passado e achei ser suficiente. Hoje, tenho imensos textos para decorar e gravar amanhã. Hoje, acabei por escrever e por causa disso, hoje, fui buscar mais tarde a minha filha à escola. Mas hoje, também escrevo por ela, para que no futuro ela não tenha de continuar a lutar.

Obrigada Joana (The Love Project – Ftografia) pela foto – está linda, como sempre!!

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