“Vamos fazer um parto bonito, assim como nos filmes”, ouvi a enfermeira dizer poucos minutos antes da nasceres. E assim foi. “Que linda, tão linda”, foi a primeira coisa que te disse e que não me cansava de repetir, há precisamente dois anos, no dia 30 de Agosto, às 18:30h, logo que te largaram nos meus braços.
“Que linda” e eu que estava convecida que todos os bebés nasciam feiinhos…
Ou seriam já só os meus olhos, os olhos de uma mãe recém-nascida que te viam assim?
No meu regaço encostaste a tua cabeça tão pequena, que cabia no meio das minhas mamocas e ficaste em silêncio, com os olhos muito abertos e vivos. Hoje ainda me pedes este colo antes de adormeceres e hoje já só cabe um berlinde entre as minhas mamocas, que do uso que lhes deste ficaram tipo aquelas camisolas que vão à máquina por engano e saem de lá prontas para a secção de criança. Já tu ocupas agora o triplo do espaço e com o teu peso lá me espalmas de encontro ao colchão: “colo, mamã” e eu a reclamar que me dás cabo das costas, enquanto te aperto esses refegos bons.
Ainda no hospital, não fazias mais do que dormir e era um tormento para te acordar. Pensei: “Olha estou safa, sai à mãe, gosta de dormir” e claro, não podia estar mais enganada e fizeste-me a vida negra no ano inteiro que se seguiu. Agora és tu que me acordas aos saltos: “Mãe, já está: ACÓDAAAAA” e és tu que passas as passinhas do Algarve para me conseguires tirar da cama às 7h da manhã.
Na altura rias-te por reflexo, hoje sorris com a dentuça toda de fora e com um ar de gozo que ao mesmo tempo me derrete e compromete: “esta para além das costas vai dar-me cabo do juízo”.
Dois anos, falas que te desunhas e eu começo a parecer aquelas velhas em lamento: “ai que o tempo passa tão depressa”. E passa. E daqui a nada já não és um bebé. E eu não quero que isto passe a correr. Logo agora que é provavelmente a fase mais gira… (acho que já disse isto umas quantas vezes em fases anteriores mas não tem mal!) Como é que eu vou viver sem te ouvir a cantar tudo mal, ainda por cima com voz de cana rachada o “bilha, bilha lá no chéu”? Ai filha, afinal em alguma coisa havias de sair a mim. Ambas desafinamos que dá gosto!
E quando olho para ti, tão livre e feliz, acho que alguma coisa devo ter feito direitinho nestes dois anos. Dois anos que já deixam saudade. Dois anos que voaram. A minha estrelinha já nasceu. Continuas linda. O meu céu está para sempre iluminado!
Parabéns Francisca!