Há dias, a introdução do peixe na alimentação do bebé gerou o maior burburinho, entre mamãs, num grupo do facebook. Uma das mamãs, cujo filhote tinha 6 meses, não se lembrava quais os peixes que o pediatra lhe tinha dito que poderia introduzir. A polémica instalou-se!
O motivo não estava relacionado com a grande diversidade da fauna marinha e o nome dos peixitos em questão mas sim com a idade do bebé: “Seis meses?”; “É muito cedo!”; “O meu pediatra diz que é só aos nove meses.”; “Coitado do bebé” e etc. e tal!
Afinal, como e quando é aceitável oferecer o peixe ao bebé?
Quando eu andava na faculdade – ou seja ontem e ai de quem diga o contrário – as recomendações ditavam que se introduzisse o peixe por volta dos nove meses.
Desde então, muito se tem falado sobre a introdução de alimentos potencialmente alergénicos, tais como o peixe e os ovos. Contudo, face à mais recente evidência científica convencionou-se que a evicção ou o atraso da introdução destes alimentos não reduz a alergia quer em lactentes considerados de risco (por história familiar positiva) quer nos não considerados de risco. 1,2
Por esta razão hoje em dia é aceitável que o peixe possa ser introduzido na alimentação do bebé a partir do sexto mês, com a oferta inicialmente de peixes magros tais como pescada, linguado, solha ou faneca.3 Progressivamente poderá recorrer a outras opções, nomeadamente maruca, cherne, pargo, robalo ou dourada.
Também em recomendações anteriores, era aconselhado que o salmão, devido ao seu elevado teor de gordura, só fosse introduzido depois dos 10 meses e em pequenas porções (não mais do que 15g por cada dose). 3
Contudo, em muito países europeus, onde a disponibilidade de pescado é muito inferior à nossa, é comum introduzir o salmão logo após os 6 meses. Por essa razão, aconselho a que o salmão não seja um dos primeiros peixes a ser oferecido mas, atualmente, não me parece pertinente que se aguarde até aos 10 meses, para se oferecer ao bebé.
Devido à menor tolerância e digestibilidade de alguns peixes, tais como o atum e a cavala, sugiro que sejam introduzidos o mais perto dos 12 meses. Já o marisco e moluscos, como o polvo e as lulas só depois dos 12 meses. Eventualmente, pela sua textura, quer o polvo, quer as lulas só terão melhor aceitação a partir dos 18 meses.
Por último, convém reforçar que todo o peixe é rico em aminoácidos e em ácidos gordos poliinsaturados de cadeia longa da série n-3, mais conhecidos como ómega 3, iodo e ferro. Sendo por isso fundamentais para o desenvolvimento da função cognitiva e imunológica do bebé.3
Posto isto, no âmbito da discussão que deu origem a este artigo, muito embora cada pediatra possa dar linhas de orientação diferentes, o aleitamento materno em exclusivo mantido até ao 4º-6º mês de vida é a medida dietética mais efectiva para a prevenção em geral de doença alérgica, particularmente em lactentes de risco.2
Cá em casa, como mantivemos o aleitamento materno em exclusivo até perto do sexto mês, a Francisca disse olá a um belo peixinho por volta dos sete meses, visto que inevitavelmente priorizei a introdução de outros grupos de alimentos, tais como os legumes, fruta e cereais e só depois a carne e mais tarde o peixe.
Tudo com muita calma e com esta deliciosa receita de papinha para bebé: creme de curgete, maçã e pescada. Esta receita de pescada constituiu o pontapé de saída para a descoberta de toda a vida, beleza e alimento que o mar e os rios têm para nos oferecer.
Bibliografia:
1. ESPGHAN Committee on Nutrition, Agostoni C, Decsi T, Fewtrell M, Goulet O, Kolacek S, Kolestzko B, et al. Complementary Feeding: a Commentary by the ESPGHAN Committee on Nutrition. J Pediatr Gastroenterol Nutr 2008; 46: 99-110.
2. Maloney JM, Sampson HA, Sicherer SH, Burks WA. Food allergy and the introduction of solid foods to infants: a consensus document. Ann Allergy Asthma Immunol 2006; 97: 559-60.
3. Alimentação e Nutrição do Lactente – Sociedade Portuguesa de Pediatria
4. Complementary Feeding: A Position Paper by the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) Committee on Nutrition. Fewtrall M. et al. JPGN Volume 64, Number 1, January 2017
Sandraaaa… e mais receitas com peixinho??? Pleaseeee! 😀
Olá Catarina!
Fica registado o pedido. Ainda durante a próxima semana publicarei mais uma receita com peixinho! beijinhos
Olá, Sandra.
Que quantidade de peixe por porção se deve preparar? Tenho uma bebé com quase 9 meses que come puré de legumes com carne ou peixe ao almoço e jantar. Tenho preparado os purés com 15 g de carne ou peixe (pesados em cru). Mas vejo algumas receitas aqui no blog com essa quantidade de peixe, cozida. Devo ajustar a quantidade??
Obrigada!
Parabéns pelo blog!
Sandra boa noite, não menciona um peixe muito comum, o carapau. Tem alguma indicação?
Olá Rita! O seu bebé deve estar agora a fazer um aninho, certo? Pode agora aumentar ligeiramente a quantidade para 15-20g por refeição. Beijinhos, Sandra
boa tarde, gostaria de colocar-lhe uma questão, devo dar peixe-espada e red-fish a minha bebé de 9 meses que iniciou agora o peixe?
obrigada
Olá Vanessa! Se iniciou agora a introdução do peixe na alimentação do seu bebé, prefira a pesacada, o linguado ou a solha. Beijinhos, Sandra
Boa tarde,
Qual o motivo para o polvo e as lulas só serem introduzidos após os 24 meses?
Obrigada!
Cara Sandra,
É com muito gosto que tenho lido e recorrido ao seu livro para preparar as papinhas da minha filha (7 meses), ainda para mais vivendo eu no estrangeiro e sendo a cultura aqui tão diferente da nossa!
Gostaria de saber se conhece o peixe badejo e se é uma boa opção para os “primeiros” peixes. Pescada é raro encontrar, de modo que ainda só recorri ao linguado.
Uma outra questão tem a ver com a introdução do ovo. Como me aconselha a começar? Adicionar cozido à papinha ou fazer tipo açorda?
Obrigada pela atenção.
Cumprimentos e parabéns pelo livro!
Olá Carolina! Que bom que nos lê mesmo além fronteiras! 🙂
Pode dar o peixe badejo e para começar o ovo, a primeira opção que referiu parece-me melhor. Deixe a açorda para fazer depois de ter introduzido o ovo inteiro: gema + clara. https://papinhasdaxica.pt/2016/11/como-e-quando-introduzir-o-ovo/
Beijinhos,
Sandra
Olá Liliana! Maioritariamente pela dificuldade ao nível da mastigação mas não sou rigorosa na recomendação, depende sempre de cada criança. Beijinhos, Sandra