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Comia tão bem e agora é isto..

O fim de semana passado fomos ao Porto. E, na hora das refeições, o apetite da Francisca tendia a ser errático: ora comia muito bem, ora fazia-se de difícil. Cá em casa tem sido a mesma história e eu quase nunca dou grande importância ao assunto. No Porto, tinha a agravante de estar super excitada e com os olhos postos na brincadeira e na atenção prometida pelos tios, tias e primos, a perder a conta.

Mas avó que é avó tem quase sempre algo a dizer: “comia tão bem e agora é isto…”

Na realidade a Francisca continua a comer muito bem, já não come é SEMPRE bem. Tem os seus dias e ainda bem que assim é, já que isso é: NORMAL! Existe até um nome bastante pomposo e assustador para o designado fenómeno: anorexia fisiológica do 2º ano de vida. E eu passo já a explicar o dito cujo para que não fiquem à beira de um ataque de nervos.

Durante o primeiro ano de vida, um bebé ganha em média 7 kg de peso e 21 cm de comprimento. Durante o segundo ano de vida, o crescimento é de cerca de 2,3 kg e 12 cm, com a maioria dos bebés a atingir um peso médio de 12,3 kg e uma altura de 87 cm aos dois anos de idade.
Contudo, entre os dois e os cinco anos de idade, o aumento de peso diminui. A maioria das crianças ganha 1 kg a 2 kg e 6 cm a 8 cm por ano.

Logo, durante este período, a maioria das crianças pequenas e em idade pré-escolar experimentam uma diminuição no seu apetite. Se já não é suposto crescerem tanto, também é normal que não precisem de tanta energia (calorias) e que ajustem a ingestão de alimentos às novas necessidades.

Embora as crianças pequenas e as crianças em idade pré-escolar variem consideravelmente a sua ingestão de alimentos aquando as refeições, o que é certo é que a sua ingestão energética diária total parece permanecer bastante constante. Isto porque, as crianças saudáveis ​​têm uma capacidade notável para manter o seu equilíbrio energético ao longo do tempo possuindo mecanismos de fome e saciedade bastante eficazes.

Só em casos em que a evolução ponderal da criança levanta suspeitas é que se deverá avançar para um exame físico geral e uma história alimentar detalhada para descartar eventuais doenças agudas e crónicas. Caso contrário, não há razões para preocupações já que possivelmente a “recusa” da criança em comer está relacionada com expectativas parentais irrealistas, que podem resultar em preocupações desnecessárias, e ameaças ou penas inadequadas, agravando a recusa da criança em comer. Os pais devem por isso ser tranquilizados e aconselhados sobre o crescimento e o desenvolvimento normal das crianças nessa idade.

Por isso mãe, não insistas com a Francisca. Já sabemos que ela está a perder aquela barriga boa de bebé que tanto adoramos mas eu posso garantir-te que ela no futuro vai ficar muito mais feliz sem ela! 😉

P.s. – Obrigada Lili: a foto está maravilhosa!!!

  1. Burklow KA, Phelps AN, Schultz JR, McConnell K, Rudolph C. Classifying complex pediatric feeding disorders. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 1998;27(2):143–7. [PubMed]
  2. Reau NR, Senturia YD, Lebailly SA, Christoffel KK, Pediatric Practice Research Group Infant and toddler feeding patterns and problems: Normative data and a new direction. J Dev Behav Pediatr.1996;17(3):149–53. [PubMed]
  3. Satter E. The feeding relationship: Problems and interventions. J Pediatr. 1990;117(2 Pt 2):S181–9.[PubMed]
  4. Leung AK, Robson WL. The toddler who does not eat. Am Fam Physician. 1994;49(8):1789–800.[PubMed]
  5. Needlman RD. Growth and development. In: Behrman RE, Kliegman RM, Jenson HB, editors. Nelson Textbook of Pediatrics. 16th edn. Philadelphia: WB Saunders; 2000. pp. 23–50.
  6. Birch LL, Johnson SL, Andresen G, Peters JC, Schulte MC. The variability of young children’s energy intake. N Engl J Med. 1991;324(4):232–5. [PubMed]

 

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12 Comments

  • Laura Lucena diz:

    Olá Sandra – que bom post!! Nem sei como agradecer. Acho que estou a começar a entrar nesta fase com o meu Zeca de 2 anos. Também acho que está um bocadinho a testar a paciência da mãe na hora da refeição, mas já não me sinto tão mal se ele só quiser metade da sopa e a gelatina (e não comer o prato principal).

    O seu blog e o seu livro (manual precioso lá em casa – BIBLIA das refeições do bebe) foram e são uma grande ajuda! Beijinhos e obrigada

    • Sandra Santos diz:

      Olá Laura!
      Fico mesmo muito feliz, que o livro tenha sido útil e que o blog ainda vá ajudando na gestão da alimentação do Zeca. beijinhos, Sandra

  • Catarina diz:

    Olá Sandra 🙂 Adoro todos os seus post’s. Eu tenho uma menina de 20 meses e há uma semana que tem negado a sopa e antes comia-a bem. Apesar de ir comendo alguma fruta e da nossa comida não come os vegetais. Eu coloco-lhos sempre no pratinho mas às coloca-os logo de lado e com a sopa eu tinha a certeza que comia os vegetais. Não sei como proceder. O que acha que devo fazer: continuo a oferecer-lhe a sopa sempre às refeições como era costumo ou durante 1 ou 2 semanas não ofereço e depois torno a oferecer? Fico a aguardar pelas suas dicas.
    Agradeço antecipadamente a sua atenção.

    • Sandra Santos diz:

      Olá Catarina! Pode experimentar não oferecer a sopa durante 2 ou 3 dias e depois tentar reintroduzir. Comece por uma quantidade mais pequena e faça brincadeiras ou histórias fantasiosas à volta da sopa. Diga que “esta colher é para dar força à Sky” (só vale se ela gostar da patrulha pata… 😉
      Beijinhos,
      Sandra

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