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O tema da recusa alimentar é sempre algo que preocupa os pais (e também muitas avós). Depois do primeiro ano de vida a velocidade de crescimento do bebé reduz bastante, podendo refletir-se também no seu apetite. Apesar de existir uma explicação lógica para esta situação, é comum que se desenvolva ansiedade e preocupação por parte dos pais (ou cuidadores). É importante referir que a relação entre criança e pais é bi-direcional.

O que é que isto significa? Os pais ficam preocupados e frustrados quando a criança não come, mas quando o demonstram, também poderão impactar a sua ingestão alimentar.

O tema da recusa alimentar é sempre algo que preocupa os pais (e também muitas avós). Depois do primeiro ano de vida a velocidade de crescimento do bebé reduz bastante, podendo refletir-se também no seu apetite.

Então, o que é que nós, enquanto pais, devemos e não devemos fazer em caso de recusa alimentar?

👎🏼 Ter distrações durante a refeição (televisão, tablets, brinquedos, etc)

Pode ser tentador ter um tablet ou um brinquedo à mesa para que a criança coma o que tem no prato. No entanto, não deve ser uma prática regular na rotina da criança, uma vez que o foco da criança não está na refeição, podendo prejudicar a sua perceção dos sinais de fome e saciedade

👍🏼 Criar um ambiente calmo à refeição com toda a família.

Fazer refeições em família é fundamental para criar bons hábitos alimentares e está associado a uma melhoria da qualidade alimentar das crianças, quando a família apresenta hábitos alimentares adequados. Ao ver os familiares (pais, irmãos, avós, primos, etc) a consumir determinados alimentos a criança estará mais disponível para experimentar alimentos novos.

Garantir que um ambiente calmo, sem pressões e sem distrações ajuda a criança a associar o momento da refeição a uma experiência positiva e aumenta a probabilidade da criança se sentar à mesa e comer o que lhe é oferecido de bom grado.

👎🏼 Dar acesso ilimitado à cozinha.

Não ter horários estabelecidos para as refeições e deixar a criança petiscar durante todo o dia, pode contribuir para que a criança não sinta fome, o que por sua vez também poderá levar à redução da sua disponibilidade para experimentar alimentos novos.

👍🏼 Definir uma estrutura das refeições para toda a família.

“As refeições ocorrem a estas horas, neste local e só temos o que está estabelecido no menu. Ter uma rotina bem definida ajuda a criança a prever como será o seu dia e poderá até ajudá-la a regular os seus sinais de fome e saciedade. Esta poderá ser uma explicação para o facto de algumas crianças comerem “melhor” na escola do que em casa.

Claro que existiram situações em que não é possível, nem é suposto, manter toda esta estrutura, por exemplo em férias ou num dia de passeio. Nestas ocasiões tente relaxar, o que importa é o dia a dia e não uma ocasião esporádica.

👎🏼 Substituir a refeição rejeitada pela criança por algo de que goste.

Quando uma criança rejeita o almoço/jantar, alguns pais têm o hábito de lhe oferecer algum alimento seguro, para que não “passe fome”. Apesar de o fazerem por estarem preocupados com os possíveis défices nutricionais que poderão advir, apenas estão a contribuir para que a criança continue a rejeitar esse alimento. Uma vez, que a criança já sabe que mesmo que se recuse a comer o que tem no prato, terá sempre outros alimentos que saciem a sua fome.

👍🏼 Expor, expor, expor!!!

Mesmo que a criança recuse um determinado alimento uma, duas e três vezes, é fundamental continuar a sua exposição.

Expor uma criança a um determinado alimento não significa necessariamente que este deva ser preparado ou servido exatamente da mesma forma todas as vezes, pelo contrário, variar a sua preparação, o seu aspeto, a sua textura e as combinações de sabores, poderá contribuir para uma melhor aceitação por parte da criança.

A exposição repetida leva a uma melhor aceitação dos alimentos e tem sido frequentemente utilizada para promover o consumo de vegetais em crianças.

👎🏼 Acabar com a política do “só sais da mesa quando o prato estiver limpo”.

Muitos de nós cresceram com esta “regra”, que apesar de ter um bom fundamento no que toca ao desperdício alimentar, não é uma boa prática em termos alimentares. A criança ao “forçar-se” a comer tudo o que tem no prato acaba por ignorar os seus sinais de saciedade, o que poderá ter um impacto na sua regulação dos sinais de fome e saciedade no futuro.

👍🏼 Oferecer quantidades mais pequenas e dar mais se a criança ainda tiver fome.

Para evitar o desperdício alimentar, prefira colocar quantidades mais pequenas no prato da criança. Se a criança, depois de terminar o que tem no prato, continuar com fome terá a oportunidade de pedir mais. Esta estratégia é ótima para que a criança consiga ser autónoma ao expressar e verbalizar a sua vontade de comer mais.

5 dicas importantes para ajudar com a recusa alimentar:

  1. Dar autonomia à criança para que escolha comer o que lhe apetece do que lhe é oferecido. Este é o conceito de “Divisão de Responsabilidade”. Nesta abordagem os pais (ou outros cuidadores) são responsáveis por definir como, quando e onde será realizada a refeição e por selecionar os alimentos que irão constituir a refeição. O papel da criança será decidir o que e quanto vai comer ou se vai comer algo na refeição oferecida.
  2. Envolver a criança na tomada de decisão! Apesar de ser o papel dos pais definir o menu, a criança pode ser envolvida em algumas decisões, por exemplo “preferes brócolos ou couve-flor?”. Desta forma, a criança sente que teve algum poder na tomada de decisão e poderá estar mais recetiva a provar os alimentos escolhidos por ela.
  3. Envolver a criança em todo o processo. Ir às compras, pôr a mesa, ajudar a preparar e confecionar os alimentos, são algumas das atividades em que a criança poderá ser envolvida.
  4. Não utilizar recompensas, especialmente alimentares. Só irá aumentar a preferência da criança pela recompensa e a recusa dos alimentos que não quis comer.
  5. Não restrinja demasiado a alimentação da sua criança. Se está numa ocasião especial e toda a gente está a comer um doce, por exemplo, proibir a criança de o comer só vai aumentar o seu desejo por esse alimento. O fruto proibido é o mais apetecido!

O mais importante de tudo é saber gerir as suas expectativas! Todas as crianças são diferentes e irão comer de forma diferente. Lembre-se que as suas ações vão impactar a ingestão do seu pequenote!

Se precisar, não tenha receio de pedir ajuda! Agende uma consulta comigo.

Bibliografia

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