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A amamentação e o sono do bebé

Nunca tinha ouvido tantas vezes a palavra suplemento como neste último ano! Sim, é verdade que parece que um camião nos passou a ferro e sim, também é verdade que isso se deve à amamentação.

Longos e penosos meses a acordar de hora a hora e quando ela nos dá tréguas dormir 3 ou 4 horas seguidas não é o sonho de nenhuma mamã ou papá, já que o nosso papá cá de casa é solidário nas lides nocturnas!

Mas será a fórmula infantil, vulgo suplemento a alternativa para uma noite bem passada?

Sempre que me questionavam se ela dormia bem e relatava que ela não me dava descanso, a sugestão era invariavelmente falar com a pediatra para introduzir o dito suplemento.

Ora, a Xica nunca deixou margem para dúvidas: é uma miúda que gosta de mostrar que é de bom sustento; a sua querida papada que perdurou durante meses não me deixava mentir e muito menos as suas lindas bochechinhas. Mas os comentários sucediam-se:

“Se calhar o problema é da amamentação. A miúda tem fome e é por isso que não aguenta a noitinha inteira”. Não me parece que fosse esse o motivo para todas as suas investidas noturnas. No entanto, claro que passadas umas quantas horas é normal que tenha fome, é que o volume gástrico de um bebé só aos 12 meses é que tem a capacidade para cerca de 200 a 250 mL.1
Mas basta verificar numa lata de fórmula que as recomendações das marcas apontam para uma quantidade de fórmula por toma de 210 mL, logo aos 4-5 meses!2,3

Ora aí está a resposta para os bebés que tomam o suplemento à noite dormirem que nem uns anjinhos… Vamos lá à feijoada! É que, para além do facto do leite materno ser muito mais fácil de digerir quando comparado com a fórmula, o bebé pode ainda auto-regular a quantidade que consome dependendo do seu apetite e capacidade gástrica.

Já no que diz respeito à fórmula, a quantidade que é oferecida ao bebé é grande parte das vezes desajustada para a idade e sobretudo dimensão do seu estômago. Assim, por mais que me custe, não há nada de errado com um bebé que acorda várias vezes durante a noite. Esta não é uma situação anormal ou preocupante, como a nossa sociedade nos parece incutir, que exija especial atenção e a introdução de outro alimento, especialmente se o bebé apresenta uma boa curva de crescimento.

Até é suposto que assim seja, já que os níveis de prolactina, hormona que ajuda à produção do leite materno, são mais elevados à noite. Logo a sucção do bebé durante a noite aumenta a produção desta hormona que consequentemente levará a uma boa produção de leite a longo prazo.

Raios!! A Natureza não nos dá tréguas, pobres mamãs! Claro está que também há bebés que são amamentados e desde cedo dormem a noite toda e claro está que eu me roo de inveja, seria tonta se não o admitisse…

Se nunca me passou pela cabeça enfiar-lhe um biberão pela goela às 4 da manhã? Claro que sim, e cheguei várias vezes a dizê-lo alto e a bom som, enquanto vociferava e praguejava à moda do Norte palavrões indecifráveis.

Mas depois de alguma ponderação e já menos toldada pelo cansaço não consigo deixar de me questionar: Quando é que deixámos de ser capazes de ver e aceitar com normalidade a nossa Natureza? Quando é que decidimos programar bebés enquanto máquinas? Quando é que ficámos mais amigos dos pais e menos zelosos do que é cada vez mais apontado como sendo um dos direitos fundamentais dos bebés?

Antes da chegada da Francisca, eu dormia 12 horas e um dia perfeito só começava à tarde, hoje a realidade é bem diferente e não questiono, julgo ou aponto o dedo a quem acaba por decidir introduzir o suplemento. O que condeno é o mau aconselhamento: um bebé que apresenta uma boa relação de peso e altura para a idade não precisa de suplemento.

Se quiser introduzir tudo bem e cada um é livre de o fazer mas que as más noites e a hipotética fome do bebé não sirvam de desculpa: “porque a médica disse que eu já não devia ter leite e ele tinha fome” – Isto é errado!

Além disso, trago um mau agoiro: a verdade é que há poucas provas de que a introdução precoce de alimentos sólidos ou fórmula diminuam os despertares noturnos do bebé, a não ser quanto se excede em muito a quantidade de fórmula e mesmo assim não é certo…

A boa notícia é que com o tempo melhora! Mamãs desesperadas: hoje a Francisca dormiu pela primeira vez oito horas!!! Yeahhh!! A má notícia: continuo cansada!

Nota: Escrevi este artigo quando a Francisca tinha pouco mais de 1 ano. Desde os 16-18 meses, que a Francisca passou de acordar várias vezes à noite para dormir como uma pedra, cerca de 12 horas seguidas. Nunca acorda antes das 9h, só para ir para a escola e a muito custo… Haja esperança!

  1. European Paediatric Association
  2. NAN 1
  3. Aptamil 1
  4. Riordan, J. & Wambach, K. (2010)  Breastfeeding and Human Lactation 4th ed. Jones and Bartlett, p. 89.

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65 Comments

  • Grata acima de tudo pela boa informação! Gostava de um dia ter oportunidade para partilharmos ideias! Um forte abraço Patrícia Nobre fundadora da BLOOM Birth & Baby

    • Sandra Santos diz:

      Olá Patrícia! Obrigada pela sua mensagem. Fiquei também curiosa por conhecer o seu projecto: BLOOM Birth & Baby. beijinhos, Sandra

  • Ana Clemente diz:

    Boa noite! Tenho acompanhado os vários post que tem escrito e é realmente engraçado como eu me revejo em quase tudo! A minha filha Olívia perdeu cerca de 12,5% do peso durante a primeira semana e meia de vida, o nos fez dirigir ao centro de saúde por várias vezes para controlar a perda/ganho de peso. Tentei com muita insistência que pegasse mais vezes o peito, mas era mentira… ela acabava sempre por adormecer (mesmo despindo-a ou tentando fazer com que não adormecesse). Ao fim de 15 dias de vida verificamos mais uma vez que o peso se mantinha igual, pelo que nos foi recomendado a introduzir o suplemento no próprio dia uma vez que o meu leite não era ‘suficiente’ e ‘magro’ em termos de gordura (…e que palavras tão rígidas para uma recém-mamã ouvir). Pois bem… como eu nunca me conformei muito bem com o ‘ter’ de introduzir o tal suplemento e sempre andei de costas viradas a tudo o que sofreu um processo na sua composição, ‘alimentos’ altamente processados uma vez que não provêm das suas origens naturais, que apesar de conter várias propriedades necessárias para o desenvolvimento do bebé nunca estarão à altura dos benefícios e respectivas propriedades do leite materno, assim como os laços que se criam desde cedo proporcionando-lhes um conforto sem igual. Por tudo isto e mais mil razões, nunca desisti de amamentar. A nossa história de amamentação já dura desde o nascimento e o suplemento ficou-se pelo caminho ;)… Aos 2 meses andou uns dias muito rabugenta devido à toma das vacinas e o único consolo que encontrou foi a maminha, desde aí que ela mandou-me a mim beber o suplemento. Resultado: suplemento descartado, maior produção de leite, percentil aumentado :)! Custou mas resultou… e apesar de andar um farrapo pelas diversas vezes que acorda de noite/pede durante o dia e ter também perdido imenso peso a amamentar, posso dizer que voltava a fazer tudo igual… ou até melhor, tivesse eu me lembrado de extrair o leite. Desta forma poderia ser desnecessária a introdução, uma vez que a perda de peso é em grande parte causada pela falta de apetite/pega incorrecta da mama e não pela ausência de leite. Seria uma boa solução para as mães que se deparam de início com estas preocupações, o leite materno extraído e oferecido pelo biberão resulta numa sucção de ‘menor esforço’ por parte do bebé, resultando eu ganho de peso até que começasse a pegar melhor o peito. Com tudo isto dito (pouquíssimo texto ahahah) tenho a certeza que o todo leite materno é suficiente para assistir às necessidades e ao desenvolvimento do nosso bebé, de quantidade certa e qualidade insuperável! 🙂

  • Matilde diz:

    Gosto muito deste blogue. Aprecio muito os conteúdos que apresenta, sobretudo porque tem conhecimento de causa – afinal é mãe – e porque os sustenta cientificamente. O que por aí há a mais são blogues que apenas contêm opiniões e juízos de valor sobre experiências alheias.
    Mas, neste último post, não pude deixar de notar (o que, aliás, venho observando há algum tempo) e de sublinhar algumas dificuldades de escrita que, às vezes, tornam os seus textos difíceis de acompanhar. Há partes que tenho de ler várias vezes para compreender o seu raciocínio. Mas, claro, questões de estilo e percalços frásicos à parte, tudo o que escreve, depois de entendido, é muito interessante!

    • Sandra Santos diz:

      Olá Matilde! Sou uma tagarela compulsiva e os parágrafos tornam-se intermináveis, por vezes. Para além de ser poupadinha em vírgulas… O que dificulta a leitura! Vou ter a sua opinião em consideração nos próximos artigos. Muito obrigada pelo seu comentário. beijinho, Sandra

  • carla noga diz:

    Ola,descobri so hoje a sua página! Adorei! Por aqui fazemos cama compartilhada que é muito melhor em todos todos os aspectos! Amo dormir enrroscadinha na minha filha e a maminha seja por fomita ou so porque quer um miminho da Mamã é tao mis fácil! Meias a dormir as duas…num miminho que nao tem fim! Adormecemos as duas enquanto ela mama e ás vezes ela nem chega a acordar! Procura a maminha mesmo a nanar! Ja faz um ano para a semana…meu Deus bem acredito…e continuamos na maminha duas outras vezes por noite! E que bom que é!

    • Sandra Santos diz:

      Olá Carla! Aqui fazemos cama partilhada após o primeiro despertar da Francisca; ou seja ela começa na cama dela e depois quando acorda vem para a nossa cama e dou mama de todas as vezes que ela acorda e pede, o que depende… Mas se há dias em que por cá é tal e qual como descreveu outros há em que estou mesmo muito cansada e as costas doem um bocadito… Ela raramente acorda mas eu desperto quase sempre! Embora tenha a certeza absoluta que vou ter muiiiiiiiiitas saudades destas noites (mesmo toda empenada) e que vou entrar em depressão temporária quando acabar a maminha, agora já sabia bem dormir umas 8 horinhas seguidas mais vezes!

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