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“Mãe: eu gosto de candies!”… What? Candies é mesmo o que eu estou a pensar que é?

“Francisca: o que são candies?” Ela, assim com os olhos muito esbugalhados e já em delírio como se estivesse a falar de algo extraordinário, responde: “candies são chupas, gomas…”. Termina com um encolher de ombros do género: “deves ser mesmo muito burra tu…”

E é isto! Anos a trabalhar na educação alimentar da miúda, para ela agora adorar guloseimas…

Sempre que alguém lhe dá algum “candie” ela vem contar-me em surdina, como se se tratasse de algo proibido mas absolutamente incrível. Eu tento ignorar. Chamo a atenção para o facto de fazer mal à barriga e aos dentes e ela lá repete – convicta – o mesmo discurso ensaiado mas mostrando sempre total concordância comigo. “Vou-lhe puxar as orelhas!!” – manifesta-se ela, muito inocente, contra quem a presenteou.

No outro dia, alguém fez anos na escola e lá veio ela com o saquinho dos doces. Íamos no carro e enquanto ela se lambuzava toda disse, cheia de moral: “o chupa faz maaaal. Os pais deixam, as mães não!”

Como já disse várias vezes, eu não sou fundamentalista mas chateia-me que ainda hoje, haja a ideia de que um adulto que evita açúcar e tem uma alimentação saudável é super cool mas já uma criança que não come doces é um coitadinho.

Muitas vezes esta falta de consciência acaba até por causar discórdia entre progenitores, pais e avós ou nas mais variadas situações.

Não me parece justo que uns tenham que fazer de maus da fita, para que os outros possam usar guloseimas como moeda de troca, para comprar o afecto da criança. É assim, uma auto-estrada sem portagem e com acesso directo ao coração.

Já para não falar que enquanto estão a comer o doce entram num estado de transe que por momentos os deixa sossegadinhos, o que é muito tentador mas tem os minutos contados e no final não sei se o balanço compensa.

Um doce não é um prémio, prenda, recompensa ou entretenimento.

Um doce é algo que as crianças devem consumir com parcimónia e não enquanto rotina.

Se eu for à praia e me apetecer um gelado é normal que eu o vá partilhar com a minha filha, se formos a uma festa vamos  querer provar o bolo ou outros doces. E isso, para mim, é o carácter social da alimentação, que também entra no equilíbrio da balança.

Mas para que possamos usufruir sem culpas destes pequenos nossos momentos, os candies não podem nem devem ser o pão nosso de cada dia. Também não considero que seja obrigatório reservar os doces unicamente a um dia por semana. Em certos casos, de crianças que vêem a alimentação como conforto, até pode ser vantajoso consumirem doces duas a três vezes por semana mas com porções muito, muito pequeninas. Isso permitirá diminuir a restrição assim como o desejo.

Ontem, a Francisca descobriu o recipiente onde eu guardo os alhos e cebolas. Reutilizei uma caixa de gelado. Lá vem ela: “mãe, isto é de ice-cream“. Desconfio que esta atração da miúda por doces ainda a vai tornar bilingue… 🙂

Em todo o caso, cá em casa é raro existirem doces. Já lá fora, acabo por fechar os olhos, até porque um dia não são dias, mas tudo o que é demais, já dizia a minha avó: é ERRO!

Para mim, o amor quando é doce não precisa de lollipops! 🙂

 

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13 Comments

  • Bruno Almeida diz:

    Permita-me a opinião (não profissional) sobre a questão do esforço e dedicação.
    Não desculpando o comportamento adotado, creio até entender o motivo pelo qual o fazem. Todos nós gostamos de nos sentir amados e “apaparicados”, no entanto, o caminho às vezes é tortuoso. Como tal, bem mais fácil é agradar sempre, e os doces são uma tentação fácil. Exige esforço não “ir por ai,” custa muito dizer que “não” e fazer de “policia mau”, mas isto tudo transcende a própria criança, trata-se acima de tudo de uma questão de saúde. E esse tema devia ser uma das prioridade de todos os pais. Mas como referi, é fácil cair na tentação do momento e instantâneo , agradando para ser um “bom” pai/mãe.
    Seguindo os seus conselhos alimentares creio estarmos no caminho mais assertivo para serem, as nossas princesas e piratas, melhores pessoas, com mais saúde e qualidade de vida no futuro. E é nesse caminho que quero estar! Claro que custa, claro que dói, às vezes (quando sozinhos) até ficamos menos felizes (não gosto de triste), mas é o maior e melhor projeto de vida, ser pai/mãe e é um projeto para sempre.
    Muito obrigado pela ajuda e desculpe o alongar da escrita…
    Bruno R. Almeida

  • Paula Fernandes diz:

    Concordo a 1000% parece uma guerra constante mas pelo bem estar da minha filha vou até ao fim do mundo! Grande post. Cumprimentos

  • Vanessa Silva diz:

    Obrigada Sandra!!! É bom ver que não caminho sozinha! Querer o melhor para eles e isso ser visto quase como fazer infeliz ou não deixar a criança “viver” ! Por vezes vem o “também comemos e estamos cá!” É por ter comido e por vezes não conseguir resistir à tentação que não quero habituar o meu filho a estas coisas! Anseio pelo dia que seja o meu filho a dizer que não quer algo porque faz mal, que há melhores opções, é por isto que “trabalho”! Mas não é fácil, avós, por vezes o pai. Mas sigo firme e convicta das minhas opções, com sentimentos de estar a fazer algo errado com os comentários que por vezes surgem.
    Obrigada mais uma vez. E peço desculpa por me ter alongado.
    Tenho de dar uma vista de olhos pelo livro, ainda não tive o gosto de o encontrar, para ver se ainda me compensa, o pequeno já vai fazer 2anos.

    • Sandra Santos diz:

      Olá Vanessa! Exacto, estamos a criar crianças saudáveis e não sobreviventes “que comeram isto e aquilo e não morreram”. Espreite o livro, eu acho que apesar de supostamente ser para bebés, honestamente penso que cerca de metade das receitas são transversais a todas as idades. 😉 beijinhos, Sandra

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