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O meu bebé tem de tomar suplemento de ferro?

O ferro é um nutriente crítico durante o primeiro ano de vida do bebé. Apesar de no primeiro semestre de vida (4-6 meses) as reservas de ferro a par da ingestão do leite materno serem suficientes para suprir as necessidades do bebé (termo e saudável), após este período as suas necessidades aumentam e é necessário incluir na sua alimentação outras fontes deste micronutriente.

O rápido crescimento e desenvolvimento motor e cognitivo característicos desta fase, aliado ao facto referido anteriormente, contribuem para que esta faixa etária esteja em particular risco de desenvolver deficiência de ferro. Que por sua vez poderá levar ao desenvolvimento de anemia por deficiência de ferro.

A anemia por deficiência de ferro está associada ao compromisso do desenvolvimento neuro-cognitivo, comportamental motor e imunitário e ao atraso no crescimento. Descubra se o seu bebé deve de tomar suplemento de ferro.

Quais são as possíveis consequências da de anemia por deficiência de ferro para a saúde do meu bebé?

A anemia por deficiência de ferro está associada ao compromisso do desenvolvimento neuro-cognitivo, comportamental (a curto e a longo prazo), motor e imunitário e ao atraso no crescimento.

A que sinais devo estar atenta?

Se o seu bebé apresenta:

  • Falta de energia;
  • Letargia;
  • Palidez da pele e mucosas (especialmente nas palmas das mãos e no interior da linha de água dos olhos);
  • Falta de ar;

Existem alguns grupos que apresentam um maior risco de desenvolvimento de deficiência de ferro, nomeadamente:

  • Bebés prematuros (<37 semanas);
  • Bebés com baixo peso à nascença (<2500g) ou que tenham sofrido de restrição de crescimento intrauterino;
  • Bebés amamentados de forma exclusiva por um período prolongado (superior a 6 meses);
  • Bebés com clampeamento precoce do cordão umbilical;
  • Bebés cujas mães sofreram de obesidade, diabetes, hipertensão e/ou anemia durante a gestação;
  • Bebés cujas dietas poderão apresentar uma inadequada ingestão de ferro (baixo consumo de carne, alimentos fortificados, dietas vegetarianas);
  • Bebés com um consumo elevado de leite e derivados;
  • Bebés que sofram de infeções crónicas ou de infeções relativamente frequentes (consequentes da imaturidade imunológica e altamente consumidoras de ferro);
  • Bebés que apresentam um crescimento acelerado;
  • Bebés sofreram de alguma perda sanguínea.

Nestes casos poderá ser necessário iniciar suplementação de ferro (consulte sempre o profissional de saúde do seu bebé antes de iniciar qualquer tipo de suplementação).

“Tendo em conta os riscos é melhor iniciar a suplementação de ferro no meu bebé! Mais vale prevenir do que remediar, certo?”

Não necessariamente. A suplementação profilática para casos em que não existem fatores de risco identificados não é uma prática recomendada pela ESPGHAN. É verdade que o défice de ferro acarreta consequências para a saúde do bebé, mas é importante referir que o excesso de ferro, que só pode ocorrer através da suplementação, não é inócuo e que também pode contribuir para o desenvolvimento de efeitos adversos (como o aumento do risco de desenvolvimento de infeções, restrição de crescimento, atraso no desenvolvimento psicomotor e cognitivo, impacto na microbiota intestinal e até mesmo efeitos gastrointestinais, como diarreia e vómitos).

“O pediatra recomendou que inicie a suplementação de ferro, mas o meu bebé não apresenta nenhum fator de risco, devo parar?”

Calma! Se o pediatra fez essa recomendação, significa que teve razão para tal. É importante considerar outros pontos para além dos fatores de risco, nomeadamente:

  • Existe história familiar de anemia?
  • Fez criopreservação de células estaminais do meu bebé?
  • O bebé apresenta algum sinal clínico de anemia?

Mesmo que a resposta a todas as perguntas seja não, poderá existir outra explicação. E é um direito seu questionar o porquê da sua recomendação!

O profissional de saúde pode basear a sua prática clínica nas recomendações de outra organização, por exemplo. A Associação Americana de Pediatria (AAP), ao contrário da ESPGHAN, recomenda a suplementação profilática em ferro (1mg/kg/dia) de bebés termo alimentados exclusivamente através do leite materno após os 4 meses. Sendo que a suplementação só deverá ser suspensa após apresentar um aporte suficiente deste micronutriente através da alimentação.

“O meu bebé toma uma gota por quilo de peso, é ferro a mais?”

Se a suplementação for profilática, o bebé deverá tomar 1mg/kg/dia de suplemento, seguindo as recomendações da AAP. Para a prescrição do suplemento, o profissional de saúde também tem de ter em conta a dosagem do suplemento que escolhe. Para isso é necessário de fazer contas!

ferrum hausmann fort folic acid1

 

Vamos a um exemplo prático:

1 gota de Ferrum Hausmann® = 2,5mg de ferro elementar

Um bebé de 7,5kg necessita de 7,5mg de ferro/dia.

Se uma gota tem 2,5mg de ferro, então necessito de dar três gotas (2,5 x 3 = 7,5 mg)

Neste caso uma gota não equivale a 1mg de ferro! Se calculássemos pelo número de gotas, iríamos ter uma quantidade de ferro muito acima das necessidades do bebé! No entanto, existem suplementos no mercado cuja dosagem é de 1mg por gota (exemplo: Difensil®) e nesses casos, sim, seriam necessárias 7-8 gotas do suplemento.

Nestes casos peça ao profissional de saúde para lhe explicar o seu racional. É legítimo conversar, questionar e tirarem as suas dúvidas sobre qual a melhor dosagem com o médico, pediatra ou nutricionista e verificar se bate certo com a concentração do suplemento indicado.

Respondendo à pergunta inicial: depende! Cada caso é um caso, e não é possível fazer uma recomendação sem conhecer o caso em específico. Iniciar suplementação (ou não) é uma decisão que deverá ser sempre tomada com o aconselhamento de um profissional de saúde.

Uma última nota: é fundamental fornecermos uma alimentação completa e variada ao nosso bebé (quer apresente anemia ou não), que inclua alimentos ricos em ferro. Para saber como maximizar a absorção de ferro na alimentação do seu bebé leia o nosso artigo.

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