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Todas as respostas que precisa sobre o mercúrio e o pescado

Recentemente, o tema do mercúrio, mais especificamente do metilmercúrio, na alimentação, nomeadamente através do pescado, tem sido cada vez mais abordado nos media tradicionais. No início de fevereiro foi tornado público um estudo da Universidade de Coimbra que avaliou a concentração de metilmercúrio no pescado mais frequentemente consumido em Portugal e no início do mês de março a DGS emitiu recomendações para as escolas para que deixem de servir pescado com elevado teor de metilmercúrio.

Mas afinal o que é o metilmercúrio, quais são as suas implicações para a nossa saúde e porque é que está a ser tão falado?

O que é o metilmercúrio e quais são os seus perigos?

O mercúrio é um contaminante ambiental presente sobretudo nos produtos da pesca. O metilmercúrio é a forma química mais tóxica deste composto. O metilmercúrio é um metal pesado presente que apresenta efeito nocivos para a saúde humana, nomeadamente ao nível cerebral, podendo induzir à neurotoxicidade.

A exposição a este composto ocorre maioritariamente através da alimentação, nomeadamente através do consumo de pescado.

Como é que o pescado fica contaminado?

Existe mercúrio no ambiente, que posteriormente é transformado em metilmercúrio por bactérias. Os animais dos primeiros níveis da cadeia trófica ingerem o contaminante, à medida que avançamos na cadeia trófica e no tempo o teor de metilmercúrio no pescado será cada vez maior, uma vez que os peixes de maior dimensão irão comer vários peixes de dimensões mais reduzidas, conduzindo à bioamplicação deste composto.

Por isso, é expectável que peixes de grande porte e com maior tempo de vida apresentem elevados teores de metilmercúrio e peixes de menor calibre apresentem valores mais reduzidos.

Quais são os grupos mais vulneráveis?

Os bebés e as crianças são um grupo especialmente suscetível aos efeitos deste composto, uma vez que a quantidade que irão ingerir de metilmercúrio é superior à de um adulto, proporcionalmente ao seu peso, e por ainda se encontrarem em desenvolvimento. O mesmo se aplica ao período in útero, o metilmercúrio atravessa a placenta, pelo que a exposição resulta em efeitos nefastos no feto, que se podem estender para o resto da sua vida. Durante a gravidez, os fetos estão também expostos aos níveis de metilmercúrio aos quais a mãe é ou foi exposta antes da gravidez, e após o nascimento, na lactação as crianças podem continuar a estar expostas ao metilmercúrio presente no organismo da mãe.

Por fim, populações com um consumo elevado de pescado, também poderão ser vulneráveis aos efeitos nefastos do metilmercúrio. É o caso da população portuguesa, sendo que cada português consome, em média, 56,5kg de peixe por ano, o que faz do nosso país o maior consumidor de pescado na União Europeia e o terceiro maior consumidor a nível mundial.

Tendo em conta a informação descrita até agora é expectável que me perguntem “O pescado não era tão saudável? Agora não devo comer/não devo dar ao meu filho?”.

A resposta tem de ser dividida em dois. Primeiro, o pescado é um alimento muito interessante a nível nutricional, é rico em aminoácidos de elevado valor biológico, em ácidos gordos polinsaturados de cadeia longa da série n-3, mais conhecidos como ómega-3 (nutriente especialmente para o desenvolvimento neurológico do bebé), iodo, ferro, selénio e vitamina D. Também sabemos que o consumo de peixe está associado prevenção de doenças crónicas não transmissíveis, nomeadamente doenças cardiovasculares.

O consumo de 2-3 porções semanais de pescado, para além de benéfico, parece ser seguro em relação à exposição de metilmercúrio, para a população em geral e para os grupos de risco. Contudo, os grupos de risco devem ter cuidados adicionais na hora de escolherem o pescado que vão ingerir, devendo optar pelo pescado com menor teor de metilmercúrio. A tabela seguinte é especialmente útil para escolher e planear as refeições que incluem pescado.

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“E o que significam os resultados do novo da Universidade de Coimbra?”

O recente estudo da Universidade de Coimbra conclui que a pescada cozida, particularmente a de maior calibre, consumida numa frequência superior a uma vez por semana, a par do consumo de carapau superior a cinco vezes por semana, ultrapassam o valor de metilmercúrio considerado seguro para a população em geral. Assim, os autores deste estudo recomendam que, em especial, os grupos de risco devem preferir pescada de menor calibre (<1kg) e limitar o seu consumo a não mais do que uma vez por semana e não consumir mais carapau mais do que cinco vezes por semana.

Como em tudo, variar é a chave! Experimente novos pescados e evite a monotonia de comer sempre pescada cozida com batatas e brócolos (apesar de aborrecido é delicioso).

Experimente a nossa receita de Dourada no forno em cama de legumes, para além de ser uma opção baixa em metilmercúrio é ainda deliciosa e fácil!

Referências Bibliográficas

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