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Como e quando introduzir o ovo?

A galinha põe o ovo e a Xiquinha papa-o todo!! Pois é, mas nem sempre foi assim … O ovo, para além de estar longe de ser dos primeiros alimentos a ser introduzido na alimentação do bebé, inicialmente nem sequer é oferecido na sua totalidade.
O ovo é um importante fornecedor de proteínas de alto valor biológico, isto é que possuem na sua composição aminoácidos essenciais, que o nosso organismo não consegue produzir; gordura de excelente qualidade e ferro, embora este esteja pouco biodisponível já que se encontra ligado à albumina e a fosfolipoproteínas, dificultando a sua absorção.1

Apesar de todas estas qualidades, pelo facto de ser um alimento potencialmente alergénico, não existe consenso sobre qual a melhor altura para o introduzir na alimentação do bebé.

Contudo, a maior parte das diversas posições/recomendações de organizações científicas referem não haver evidência científica convincente de que o evitar ou retardar a introdução de alimentos potencialmente alérgicos, tais como o ovo, reduza a alergia, quer em lactentes considerados de risco, quer naqueles sem história familiar de patologia alérgica e que as vantagens nutricionais da sua introdução precoce se sobrepõem aos eventuais riscos.2, 3, 4

Assim, em Portugal, embora muitos pediatras continuem a recomendar oferecer ao bebé a gema a partir do 9º mês, de uma forma progressiva e lenta, as mais recentes posições internacionais, tais como as do ESPGHAN (European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition) apontam para uma introdução do ovo, a partir do 6º mês.5

Também o Comité de Nutrição da Sociedade Francesa de Pediatria, sugere que a diversificação alimentar não deva ser iniciada antes dos 6 meses, idade a partir da qual já se pode introduzir o ovo. A Sociedade Brasileira de Pediatria refere que o ovo (clara e gema) deve ser introduzido a partir dos 6 meses, lembrando que frequentemente as mães oferecem às crianças alimentos que já possuem ovo na sua composição, como bolachas ou massa, por isso não seria necessário atrasar a sua introdução.6

Refere ainda que a introdução tardia do ovo, aumenta o risco de alergia a esse alimento! Quando iniciado após os 9 meses esse risco aumenta em 1,5 vez! Quando iniciado após os 12 meses de vida, esse risco aumenta em 3 vezes!

Posto isto, independentemente, do momento em que introduzem o ovo, continuo a aconselhar que ofereçam primeiro a gema e só depois a clara, seguindo mais ou menos este plano:

– Meia gema (por refeição), por semana, durante 2 a 3 semanas.
– Seguidamente pode dar uma gema inteira (por refeição), por semana, durante 2 a 3 semanas.
– Depois dos pontos anteriores, o bebé já poderá consumir cerca de 2 a 3 gemas por semana mas nunca deverá exceder nem esta quantidade, nem uma gema por dia.
– Deve ter em atenção que a utilização de gema numa refeição obriga à ausência de oferta de carne ou peixe nessa refeição.
– A clara poderá ser introduzida posteriormente, devendo ser protelada a sua introdução, caso haja história individual de atopia (esses devem ser avaliados e orientados individualmente).
– A gema deve ser bem cozida para evitar o risco de contaminação por Salmonella;

Com a Francisca confesso que segui estas orientações mas não de um modo tão sistemático ou rigoroso, contudo, os bebés com história pessoal ou familiar de alergia deverão ter um maior rigor ao seguir estas indicações.

Quanto ao ovo, agora a Xica já o papa todo e adora, principalmente numa bela açorda, ou não fosse ela, pela parte do pai, uma alentejaninha de gema!

1. Alimentação e Nutrição do Lactente – Sociedade Portuguesa de Pediatria
2. Agostoni C, Decsi T, Fewtrell M, Goulet O, Kolacek S, Koletzko B, et al. ESPGHAN Committee on Nutrition. Complementary feeding: a commentary by the ESPGHAN Committee on Nutrition. J Pediatr Gastroenterol Nutr 2008; 46: 99-110.
3. ESPGHAN Committee on Nutrition, Agostoni C, Decsi T, Fewtrell M, Goulet O, Kolacek S, Kolestzko B, et al. Complementary Feeding: a Commentary by the ESPGHAN Committee on Nutrition. J Pediatr Gastroenterol Nutr 2008; 46: 99-110.
4. Maloney JM, Sampson HA, Sicherer SH, Burks WA. Food allergy and the introduction of solid foods to infants: a consensus document. Ann Allergy Asthma Immunol 2006; 97: 559-60
5.Fewtrell M. et al. Complementary Feeding: A Position Paper by the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) Committee on Nutrition. Volume 64, Number 1, January 2017
6. Manual de Nutrologia e Alimentação
7. Kull I., Bergstrom A., Lilja G., Pershagen G., Wickman M. Fish consumption during the first year of life and development of allergic diseases during childhood. Allergy. 2006;61:1009–1015Kull et all, 2006
8. Koplin JJ, et all, 2010

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