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A partir de que idade podemos dar mel às crianças?

A mamã que ainda não ouviu falar de botox que levante a mão! Digam lá se não dava jeito apagar uma outra ruguita? Já aquele efeito de cara tipo mausoléu é que não calha nada a preceito… É que o botox é produzido a partir de uma neurotoxina, de uma bactéria chamada Clostridium botulinum e um dos efeitos, para além de tirar as malfadadas rugas, é paralisar temporariamente os músculos.

Ó Sandra, acho que avariaste de vez, então o artigo não é sobre o mel??

Calma, já lá vou! Esta bactéria, embora faça milagres pela estética, é responsável pelo botulismo, uma doença neuroparalisante grave e rara. Existem 5 formas diferentes de botulismo mas por razões óbvias vou focar-me no botulismo infantil, que surge após a ingestão de esporos desta bactéria, que germinam e formam toxinas no intestino de crianças com menos de 1 a 2 anos de idade.

Ora, o mel é um reconhecido veículo de esporos de C. botulinum e, pelas suas características, não pode sofrer tratamentos térmicos, capazes de os destruir.  Também as folhas da camomila (entre outras ervas) podem ser contaminadas por esta bactéria e a água usada para preparar esta e outras infusões, habitualmente chamadas de “chá”, não destrói os esporos de Clostridium e pode inclusivamente activar a sua germinação.

Tendo em conta que em muitos países o mel é usado na chupeta do bebé para os acalmar e que estamos no pico das gripes, onde o recurso a este alimento é muitas vezes sugerido, torna-se importante alertar para os perigos da sua introdução precoce. Ainda: é frequente encontrarem-se conselhos, quer em livros, revistas, sites da internet e grupos de facebook dirigidos a mamãs, no sentido de darem chá de camomila aos seus bebés para acalmarem as suas cólicas infantis ou as insuportáveis dores de dentes.

Esta desinformação pode contribuir para aumentar o número de crianças em situações de risco. Por isso é importante considerarem que, não devem dar a crianças com idade inferior a 2 anos, mel e infusões de ervas não indicadas para a alimentação infantil.

“Ó Sandra mas algumas das tuas receitas, catalogadas como sendo a partir dos 12 meses, têm mel…”. Sim, é um facto. Os biscoitinhos de gengibre e mel,  as tartes de maçã e tangerina são um bom exemplo disso. Contudo, nestas receitas o mel é sujeito a temperaturas muito elevadas durante um longo período de tempo.

Este binómio tempo/temperatura, embora acabe por levar à perda de muitos constituintes interessantes, presentes no mel, permite destruir a presença da bactéria ou dos seus esporos, minimizando o risco de qualquer possível contaminação.

Já o mel ao natural, como dito anteriormente, por não sofrer qualquer processo térmico não pode ser oferecido às crianças antes dos 2 anos de idade.

Quanto ao botox, eu não sou fã mas se houver por aí alguém a pensar no assunto não entre em pânico, afinal para efeitos estéticos ele é administrado localmente e em doses muito pequenas…Já dizia Paracelso: “a dose faz o veneno”.  Frase que assenta que nem uma luva nesta bactéria muito matreirinha!

Referências:

  1. Nantel, J. (2002) Clostridium Botulinum. International Programme on Chemical Safety, Poisons Information Monograph 858. (Ed. Tempowski, J. (IPCS)). World Health Organization. URL http://www.who.int/csr/delibepidemics/clostridiumbotulism.pdf Accessed 2007 Jul 10
  2. Saraiva, ; Campos Cunha, I.; Costa Bonito C.; Pena C.; Toscano M.M.; Teixeira Lopes T.; Sousa I.; Calhau M. A. (2012). Fisrt case on infant botulism in Portugal . Food Control, vol. 26,(1), P 79-80.
  3. Centres for Disease Clostridium botulinum Monovalent and Polivalent Antitoxins. Atlanta, Georgia: CDC, 1987.
  4. Solomon HM, Timothy L Clostridium botulinum [Em linha]. In U.S. Food and Drug Administration. Bacteriological Analytical Manual, 2001. [consult. 11-6-2013]. Disponível em: http://www.fda.gov/Food/FoodScienceResearch/LaboratoryMethods/ucm070879.htm
  5. Bianco MI, Lúquez C, de Jong LI, et Presence of Clostridium botulinum spores in Matricaria chamomilla (chamomile) and its relationship with infant botulism. Int J Food Microbiol. 2008 10;121(3):357-60.
  6. Koepke R, Sobel J, Arnon Global occurrence of infant botulism, 1976-2006 [Em linha]. Pediatrics. 2008 Jul;122(1):e73-82. doi: 10.1542/peds.2007-1827. [consult. 11-6-2013]. Disponível em: http://pediatrics.aappublications.org/content/122/1/e73.full
  7. Nevas, , Hielm, S., Lindström, M., Horn, H., & Korkeala, H. (2002). High Prevalence of Clostridium botulinum Types A and B in honey samples detected by polymerase chain reaction. International Journal of Food Microbiology, 72(1-2), 45-52.
  8. Küplülü, , Göncüoglu, M., Özdemir, H., & Koluman, A. (2006). Incidence of Clostridium botulinum spores in honey in Turkey. Food Control, 17(3), 222-224.
  9. Finola MS, Lasagno CM, Marioli Microbiological and chemical characterization of honeys from central Argentina. Food Chemestry. 2007;100(4):1649-1653.
  10. Wolters First case of infant botulism in the Netherlands [Em linha]. EuroSurveillance. 2000 Dec 7;4(49). [consult. 11-6-2013]. Disponível em: http://www.eurosurveillance.org/ViewArticle.aspx?ArticleId=1478
  11. Lindström M, Korkeala Laboratory diagnostics of botulism. Clin Microbiol Rev. 2006 Apr;19(2):298-314.
  12. Health Protection Guidelines for Action in the Event of a Deliberate Release: Botulism. (version 4.5.1) HPA, 2009 Centre for Infections. [consult. 11-6-2013]. Disponível em: http://www.hpa.org.uk/webc/HPAwebFile/HPAweb_C/1194947315628

 

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16 Comments

  • Carlos diz:

    Oi,
    Muito bom sua matéria, mas gostaria de saber, quando se faz o chá de camomila a erva fica exposta a temperaturas altas de fervura, isso pode acabar com esta bactéria?
    Pergunto por que disseste que nas suas receitas ” o mel é sujeito a temperaturas muito elevadas durante um longo período de tempo.”
    Fiquei com esta dúvida.
    Parabéns pelo trabalho.

    • Sandra Santos diz:

      Olá Carlos! Embora sujeito às temperaturas elevadas da fervura, o tempo no qual a camomila permanece nessa temperatura poderá não ser suficiente para eliminar todos os esporos que dependem sempre desde binómio tempo e temperatura. Beijinhos, Sandra

  • joseph diz:

    não concordo acho que a indústria criou algo chamado antibiótico sintético de laboratório que gera muita grana, e ao mel apesar de de ter um preço um pouco alto não se compara ao preço e risco presente e futuros dos antibióticos, acho que a partir do momento que a crinça começa a se alimentar de alimentos sólidos por volta de 1 ano já se pode inserir mel, sucos e chás não muito fortes na dieta, mel claro em período de gripes e tosses por um período de 10 dias tal como uso constante de soro fisiológio nas narinas, ultrapassando isto aí sim poderemos verificar uso de remédios sintéticos, já se usava mel natural no tempo dos avós , o resto é indústria querendo ganhar dinheiro

    • Sandra Santos diz:

      Olá Joseph! A recomendação veiculada neste artigo é validada cientificamente e a bibliografia deste artigo é do INSA – Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Beijinhos, Sandra

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