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O sono do bebé é uma preocupação comum para os recém-papás sobretudo quando têm a percepção que o bebé não dorme. Embora muitos pais estejam preparados para que um recém-nascido acorde frequentemente, outros, impulsionados por ideologias culturais são encorajados socialmente a acreditar que é suposto que um bebé com poucos meses durma a noite toda. Tal é encarado como um objetivo e marco no desenvolvimento, bem como reconhecido como um caso de sucesso parental.

Perante os vários despertares noturnos do bebé, muitas recém-mamãs são levadas a acreditar que algo de errado se passa quando o seu bebé não dorme várias horas seguidas. Neste contexto, de frustração e cansaço, buscam uma explicação ou uma solução para o que consideram ser “um problema”.

De facto, muitas mamãs de primeira viagem, acreditam que a dieta dos seus bebés está relacionada com o sono. A introdução precoce da fórmula ou o aumento do aporte de alimentos sólidos mais calóricos à noite, são frequentemente dados, numa tentativa de promover o sono, quando o bebé não dorme noite toda seguida.

Contudo, é provável que esta ideia de que a fórmula ou alimentos sólidos vão ajudar o bebé a dormir não passe de um conto de fadas, transmitido inter-gerações, sobretudo por mulheres mais velhas. Se é verdade que a idade é um posto, o que é certo é que nem sempre a experiência individual reflete a causa-efeito na realidade coletiva da maioria dos bebés. Também muitos profissionais de saúde parecem embarcar nesta recomendação da introdução precoce de fórmula ou alimentos sólidos, que pode ser altamente questionável.

Assim, saiba que a introdução precoce de alimentos sólidos ou fórmula numa tentativa de fazer o bebé dormir mais tempo pode não ser uma boa ideia por várias razões:

  1. Há poucas provas de que isso ajude.

Alguns bebés podem até passar a dormir pior, devido a reações adversas à fórmula ou aos sólidos (dor de barriga, etc. não são raros), especialmente se o bebé tiver menos do que 4-6 meses de idade. Três estudos indicam que a adição de sólidos ou de fórmula à dieta não faz com que os bebés durmam mais tempo. Estes estudos não encontraram qualquer diferença nos padrões de sono dos bebés que receberam sólidos antes de se deitarem, quando comparados com os bebés que não receberam sólidos.1,2,3 Apenas um estudo parece relatar que a introdução de sólidos aos 4 meses, levou a que o bebé dormisse mais 16 minutos e acordasse 1,75 vezes por noite contra as 2 vezes de despertares noturnos, dos bebés que continuaram a aleitamento exclusivo até aos 6 meses.4

2- A fórmula é mais difícil de digerir do que o leite humano (ler artigo);

Por isso, os bebés alimentados com fórmulas tendem a ficar mais tempo saciados entre cada toma. Na realidade, não se trata simplesmente do bebé ficar mais saciado mas sim do facto da fórmula requer que o sistema digestivo do bebé trabalhe horas extras enquanto o bebé tenta digerir um leite de outra espécie (usualmente leite vaca). Embora uma noite bem passada, após tantas semanas desgastantes possa parecer um milagre, provavelmente não é algo que desejemos para o corpo dos nossos bebés, a menos que não haja outras alternativas. Há também riscos na utilização de fórmulas. A fórmula tem certamente um lugar na alimentação infantil de muitos bebés mas não deve ser utilizada sempre que o leite da mãe esteja disponível.

3- A introdução de fórmula ou alimentos sólidos mais precocemente (antes dos 6 meses) pode resultar num aumento do risco de infeção do trato respiratório superior. 5

4- Investigações recentes sugerem que longos períodos de sono noturno profundo estão associados à síndrome da morte súbita do bebé (SIDS) e que os bebés que dormem mais tempo e consequentemente passam maior tempo deitados, podem ser mais vulneráveis à SIDS. Alguns cientistas afirmam que longos períodos de sono não são “naturais” para os bebés humanos e que as interrupções do sono nos primeiros meses podem constituir um fator de proteção. É necessária mais investigação sobre este assunto, mas esta informação provavelmente levará os pais a pensarem duas vezes antes de quererem manipular significativamente o padrão natural do sono do bebé nos primeiros meses de vida.6

Sobre dar cereais (papa) ao bebé pelo biberão…

  1. Aumenta o risco de asfixia.
  2. Ao adicionar o cereal/papa ao leite no biberão, muitas vezes o que acaba por fazer é diminuir a quantidade de leite e aumentar a de cereal (hidratos de carbono), comprometendo o aporte de leite adequado para um crescimento e desenvolvimento adequados. Lembre-se que o leite é o alimento principal no primeiro ano do bebé.
  3. O bebé recebe uma maior concentração de calorias sem poder regular a sua própria ingestão. Isto pode levar a problemas de excesso de peso no futuro.
  4. Está a comprometer o processo de mastigação. Lembrando que toda a comida sólida deve ser oferecida à colher ou à mão.

Se o médico do bebé lhe sugerir esta opção para minimizar situações de refluxo, considere a possibilidade de perguntar sobre outras alternativas, uma vez que esta prática tem o potencial de causar mais danos do que benefícios.

Conclusão:

  • Quando o bebé apresenta um crescimento expectável, então o leite materno não é fraco (ler artigo), o bebé não tem fome e existem muitas outras razões fisiológicas, psicológicas e antropológicas que explicam porquê que o bebé não dorme a noite toda.
  • Nesta circunstância, a introdução da fórmula para que o bebé durma a noite toda poderá trazer muito mais desvantagens do que benefícios para a criança.
  • A introdução de outros alimentos complementares, ou ditos alimentos sólidos para além da fórmula deve ocorrer SEMPRE depois dos 4 meses.5
  • Apesar da ESPGHAN não ver desvantagens na introdução de alimentos antes dos 6 meses de idade, o desenvolvimento particular de cada bebé deve ser tido em consideração.5
  • NUNCA deverá oferecer, ao bebé, papa ou sopa no biberão!
  • Se o bebé não dorme a noite toda seguida mas anda bem-disposto durante o dia e tem um desenvolvimento saudável, então não há nada de errado com o seu bebé!

Bibliografia:

  1. Brown A & Harries V. Infant Sleep and Night Feeding Patterns During Later Infancy: Association with Breastfeeding Frequency, Daytime Complementary Food Intake, and Infant Weight. Breastfeeding Medicine. June 2015, 10(5): 246-252. doi:10.1089/bfm.2014.0153.
  2. Macknin ML, Medendorp SV, Maier MC. Infant sleep and bedtime cereal. Am J Dis Child. 1989 Sep;143(9):1066-8.
  3. Keane V, et al. Do solids help baby sleep through the night? Am J Dis Child 1988; 142: 404-05.
  4. Perkin MR, et al. Association of Early Introduction of Solids With Infant Sleep: A Secondary Analysis of a Randomized Clinical Trial. JAMA Pediatr. 2018 Aug 6;172(8):e180739. doi: 10.1001/jamapediatrics.2018.0739. Epub 2018 Aug 6.
  5. Mary Fewtrell, et al. Complementary Feeding: A Position Paper by the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) Committee on Nutrition.
  6. James J. McKenna. Night waking among breastfeeding mothers and infants. Conflict, congruence or both? Evol Med Public Health. 2014; 2014(1): 40–47. Published online 2014 Apr 8. doi: 10.1093/emph/eou006

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