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Já há meses que andava a prometer a algumas mães um artigo sobre este assunto: alergia às proteínas do leite de vaca (APLV).
Peço desculpa por só agora estar a dar resposta às vossas solicitações mas aqui a mummy é só uma e já não dá para tudo…
O motivo para tanto pedidos prende-se com o facto desta ser a alergia alimentar mais frequente nos primeiros anos de vida do criança, estimando-se que a prevalência varie entre 2 e 3% no primeiro ano de vida do bebé e seja inferior a 1% entre crianças com idade igual ou superior a 6 anos, sendo rara no adulto.
A APLV resulta de uma resposta do sistema imunológico às proteínas existentes no leite de vaca e é muito importante distinguir APLV de intolerância à lactose, que são duas situações clínicas muito distintas.
A apresentação clínica da APLV, pode variar desde formas ligeiras a muito graves, devendo suspeitar-se desta alergia quando sintomas idênticos se repetem após a ingestão de leite ou de derivados.
A APLV mediada por anticorpos IgE é a mais comum, sendo uma reacção imediata com início geralmente nos primeiros 30 minutos e até 2 horas após a exposição ao alimento (ingestão, contacto, ou inalação de partículas).

Quais são os sinais ou sintomas mais frequentes?

  • Urticária, eventualmente associada a angioedema
  • Eczema
  • Vómitos e/ou diarreia
  • Dor abdominal/cólica
  • Dificuldade respiratória
  • Anafilaxia (reacção alérgica mais grave, podendo mesmo levar à morte se não for imediatamente tratada)

A alergia às proteínas do leite de vaca não mediada pelos anticorpos IgE envolve outros mecanismos imunológicos. É uma reacção normalmente tardia, com início mais de 2 horas após a ingestão do alimento, e por vezes de difícil diagnóstico. Pode manifestar-se mais frequentemente na infância por sintomas gastrintestinais, tal como sangue e muco nas fezes, vómitos, diarreia ou atraso no crescimento.
A APLV pode ter também um mecanismo imunológico misto, envolvendo simultaneamente mecanismos mediados por IgE e por células tal como sucede na dermatite atópica e na esofagite eosinofílica.

Como se procede ao diagnóstico?

O diagnóstico deverá ser suspeitado pela existência de história clínica sugestiva, nomeadamente introdução recente de leite adaptado (fórmula de leite em pó para lactentes) com posterior aparecimento, após alguns minutos ou horas, dos sinais ou sintomas característicos desta doença, que passam a reproduzir-se após as ingestões subsequentes de lácteos.

Para estabelecer um diagnóstico correcto pode ser necessário recorrer a diversos métodos:

  • Dieta de eliminação: eliminação das proteínas do leite de vaca (PLV) da dieta com total resolução das queixas.
  • Testes cutâneos, especificamente dirigidos para o leite e as PLV.
  • Análise sanguínea (com pesquisa de anticorpos IgE específicos para o leite de vaca e PLV).
  • Prova de provocação oral – realizada em meio hospitalar, sob vigilância médica, permite confirmar o diagnóstico pela ocorrência de sintomatologia após a ingestão de proteínas do leite de vaca. Esta, permite, também, avaliar a aquisição de tolerância ou resolução da APLV.
  • Em casos particulares poderá haver necessidade de recorrer a outros meios auxiliares de diagnóstico, como por ex. endoscopia com biópsia da mucosa do intestino.

Fontes alergénicas, alimentos a evitar e situações de risco em bebés e crianças com alergia às proteínas do leite de vaca

Todos os alimentos que contêm leite de vaca ou derivados do leite de vaca (iogurte, nata, queijo, manteiga, etc.) correspondem a alimentos de risco pois contêm as proteínas responsáveis por esta alergia alimentar.

Na Tabela seguinte encontram-se alguns exemplos de alimentos que são, ou podem ser confeccionados com leite ou derivados ou que podem conter proteínas lácteas na sua composição. Não é uma listagem exaustiva de todas a possíveis fontes de proteínas lácteas, mencionando apenas as mais comuns.

Por outro lado, há que haver especial cuidado na confecção e manuseamento dos alimentos, de modo a evitar contaminação devido a contacto com o leite, derivados de leite ou outros preparados que possam conter PLVs. O risco de contaminação inadvertida é maior em estabelecimentos de restauração ou mesmo em casa de amigos ou familiares.

De salientar, também, a necessidade de evitar ingestão/contacto com outros leites, como o leite de cabra e de ovelha (e respectivos queijos), devido a risco de poderem desencadear reacção (reactividade cruzada).

É essencial ter cuidado na selecção de alimentos nomeadamente através de uma leitura atenta dos rótulos de alimentos.

Deve ter-se ainda em atenção que o facto de um alimento ser apresentado como isento de lactose não o torna seguro para pessoas com APLV – o leite e os seus derivados sem lactose têm uma composição proteica idêntica à dos produtos com lactose, sendo por isso igualmente alergénicos.

Que palavras podem constar dos rótulos de determinados produtos cuja ingestão o doente com APLV deve evitar?

Manteiga, aroma artificial de manteiga, gordura de manteiga, óleo de manteiga; nata; caseína, hidrolizado de caseína, caseinato, coalho de caseína; queijo; requeijão; lactalbumina, fosfato de lactalbumina, lactoglobulina, leite (sob qualquer forma, incluindo: condensado, derivado, evaporado, leite de cabra ou ovelha, desnatado, em pó); soro / soro de leite, iogurte

(Inglês: Artificial butter flavor / butter / butter fat / butter oil, Buttermilk, Casein (casein hydrolysate), Caseinates (in all forms), Cheese, Cream, Cottage cheese, Curds, Custard, Ghee, Half and half, Lactalbumin / lactalbumin phosphate, Lactoglobulin, Milk (condensed, derivative, dry, evaporated, goat’s milk, low fat, malted, milk fat, non fat, powder, protein, skimmed, solids, whole), Nougat, Pudding, Sour cream / sour cream solids / sour milk solids, Whey, Yogurt)

ALIMENTOS SUBSTITUTOS:

  • Leite materno.
  • Leite extensamente hidrolizado (leite em pó com as proteínas do leite de vaca extensamente hidrolizadas, i.e., as PLV são modificadas por fragmentação reduzindo o estímulo para a reacção alérgica.
  • Papas não lácteas (as que são para fazer com o leite do bebé e não com água). Algumas papas para fazer com o leite do bebé contêm uma pequena percentagem de leite na composição pelo que é sempre aconselhável verificar a lista de ingredientes.
  • Bebidas ou fórmulas para lactentes baseadas em proteínas de origem vegetal (soja, arroz, aveia, coco, amêndoa, avelã, espelta, quinoa, kamut, semente de cânhamo, linhaça).

Na substituição do leite de vaca deverá existir o cuidado de evitar défices nutricionais, pelo que poderá ser necessário o acompanhamento de um nutricionista. Vegetais de folha verde (couves, brócolos, espinafres), leguminosas (feijão) e frutos secos (noz, amêndoa) ou desidratados (figo, ameixa) constituem fontes alternativas de cálcio.

Como se trata a alergia?

O tratamento passa pela evicção de ingestão/contacto de PLV e/ou substituição das mesmas na dieta, por proteínas de leite de vaca modificadas/fragmentadas ou por outras bebidas substitutas, de modo a evitar reações.
É importante ainda salientar que, nem todos os doentes apresentam o mesmo grau de sensibilidade. Alguns poderão tolerar pequenas quantidades de leite após cozedura a alta temperatura numa matriz de trigo.

A introdução de leite desta forma (ex. bolos, biscoitos) num alérgico deverá ser sempre orientada após estudo diferenciado por Imunoalergologia, já que não é isenta de riscos.

Caso suspeite que o seu filho tem este tipo de alergia deverá procurar aconselhamento numa consulta médica, diferenciada, de Imunoalergologia.

Bibliografia
Alergia alimentar: conceitos, conselhos e precauções por Susana Oliveira e Rita Câmara, Médicas especialistas em Imunoalergologia – Grupo de Interesse de Alergia a alimentos da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica

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