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O que é o BLW?

O Baby-led Weaning é uma abordagem de introdução dos alimentos complementares, alternativa à diversificação alimentar tradicional, que ganhou popularidade sobretudo nos últimos anos. Esta abordagem pressupõe que o bebé tem a capacidade de se auto-alimentar, como tal os alimentos são oferecidos moídos, picados ou aos bocados, competindo ao bebé comer sozinho, com as mãos, em vez de ser alimentado pelo cuidador, à colher.

O BLW provoca muitas vezes um certo receio e desconfiança. Umas das principais preocupações dos pais e profissionais de saúde prende-se com a segurança deste tipo de desmame guiado pelo bebé, não só do ponto de vista nutricional, como sobretudo pelo potencial risco de asfixia.

Deste modo, a pergunta que se coloca é: comparativamente com uma abordagem convencional,

O BLW aumenta o risco de asfixia?

Faz parte do processo de aprendizagem levar os alimentos à boca, mastigá-los e trincá-los. Aos seis meses, o bebé pode ainda não ter desenvolvido todas as capacidades motoras e neurológicas, necessárias para ingerir com segurança alimentos sólidos inteiros.

Podendo existir uma discrepância entre a aparente capacidade de auto-alimentação do bebé e a capacidade real de o fazer.

Um pequeno inquérito, envolvendo 199 bebés, não encontrou diferenças na incidência de asfixia entre bebés alimentados segundo os princípios do BLW e alimentação convencional, com maior oferta de alimentos à colher. Tendo sido reportados em 30% dos casos, pelo menos um episódio de asfixia, com ingestão de alimentos sólidos. Contudo, não se pode excluir que esta elevada taxa tenha sido causada pelas dificuldades dos pais em distinguirem o engasgo de reflexo de gag.

De salientar que o reflexo de gag, facilmente reconhecido como “ânsia” do vómito, embora seja muitas vezes confundido com asfixia é na realidade o oposto do engasgo, consistindo numa resposta protetora que impede que objetos estranhos ou material nocivo entrem na faringe, laringe ou traqueia.

Resultados semelhantes foram obtidos num estudo observacional recente, de 1151 bebés, que abordava o risco de asfixia nas diferentes abordagens, no âmbito da alimentação complementar. Os dados mostraram que ocorreu, pelo menos um episódio de asfixia, em:

  • 11,9% do grupo BLW mais estrito;
  • 15,5% do grupo BLW mais flexível;
  • 11,6% do grupo de alimentação tradicional.

Podemos assim também concluir que, não se registaram diferenças significativas entre os diferentes grupos.

Do mesmo modo, um outro estudo, especificamente concebido para abordar o risco de asfixia, não encontrou diferenças nos episódios de engasgo, entre os diferentes grupos, que seguiam métodos de alimentação distintos.

Porém, este estudo, não considerou a versão clássica de BLW, mas uma versão modificada: o método BLISS – Baby-led Introduction to Solids.

O que é o método BLISS?

O método BLISS é uma forma de BLW modificada, que preconiza a oferta de alimentos ricos em ferro, a oferta de um alimento de alto valor energético em cada refeição, assim como a evicção de alimentos com elevado risco de engasgamento, de forma a minimizar os riscos do BLW original.

Qual a diferença entre o BLW e BLISS?

A diferença entre BLW e BLISS é principalmente o nível de especificidade das instruções, enquanto as características chave permanecem as mesmas.

Foi exatamente o que aconteceu neste estudo, foi fornecida informação aos pais, para que aprendessem a evitar alimentos com maior risco de asfixia, tais como maçã crua e uvas, ambos associados a asfixia fatal.

Posto isto, é possível que o BLW na sua vertente “original”, possa não ter os mesmos resultados, com eventualmente maiores riscos associados.

Importa ainda referir que estes estudos têm várias limitações, tais como, a ausência na amostra de um grupo de bebés alimentados de forma convencional, nenhuma atribuição aleatória aos grupos e apenas o recrutamento de pais que já planeavam uma abordagem direcionada para o BLW.

Posto isto, é importante referir que a asfixia pode facilmente ocorrer em bebés que aprendem a comer, porque movem os alimentos à volta da boca, mastigando e mordendo pelas primeiras vezes, independentemente da abordagem adotada.

Concluindo: ainda não é claro se existe efetivamente um maior risco de asfixia associada ao BLW. Contudo, convém não esquecer que no método convencional também é desejável que sejam oferecidos alimentos à mão ao bebé.

Por isso, é fundamental que, independentemente do método escolhido, todos os pais saibam aferir se o seu bebé, a partir dos 6 meses, já está preparado para consumir sozinho alimentos à mão, distinguir engasgo de reflexo de gag e como atuar em caso de emergência.

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