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O bebé e a alergia alimentar: como e quais os alimentos que posso oferecer?

Hoje é o Dia Mundial da Alergia, por isso é um dia auspicioso para falar sobre o bebé e a alergia alimentar. Este é um tema que suscita sempre muitas dúvidas e assusta muitos dos pais: “Será que já lhe posso dar aquele alimento?”, “E se for alérgico?”, “Como e quando oferecer os alimentos potencialmente alergénicos?”, “Quais os sintomas a que devo ficar atento?”

Afinal quais são os alimentos com maior potencial alergénio?

O ovo, o leite de vaca, os frutos gordos, o marisco, o trigo, o peixe e a soja são os alergénios alimentares mais comuns, mas, na verdade, o que quer isto dizer? Devemos atrasar a sua introdução para prevenir a alergia alimentar? Embora até há algum tempo se acreditasse que essa seria a solução, o paradigma atual está a mudar da prevenção para a exposição controlada.

Muitas diretrizes internacionais de alimentação infantil já recomendam alimentos complementares, incluindo alimentos alergénicos, a serem introduzidos dos 4 aos 6 meses de idade, independentemente do histórico familiar.

Ou seja, a existência de irmãos ou pais com diagnóstico de alergias alimentares, não parece aumentar o risco ou predisposição de que o bebé desenvolva alergias aos mesmos ou outros alimentos.

Estudos recentes mostram também que quanto maior for a variedade de alimentos introduzidos até ao 1º ano de vida, incluindo estes alergénios supracitados, menor é a probabilidade de o bebé desenvolver alergia alimentar.

Em bebés com elevado risco de doença alérgica, há agora provas diretas de que, por exemplo, o consumo regular e precoce de amendoins (um alimento desde sempre considerado potencialmente alergénico), reduzirá a prevalência da alergia ao amendoim, em comparação com a sua evicção. Também, numa meta-análise recente e abrangente, houve provas moderadas de que a introdução precoce versus tardia de ovos estava associada a um risco menor de alergia ao ovo.

Tais conclusões podem estar associadas a vários fatores, desde os efeitos na microbiota (os microorganismos que vivem no nosso intestino e que modulam algumas funções do nosso corpo), ao aumento da quantidade de nutrientes ingeridos e à maior exposição a alergénios. Por este motivo, a evicção destes e outros alimentos sem justificação médica, não deve ser o caminho a seguir.

Saiba mais sobre os 14 principais alergénios aqui.

Quando e como introduzir os alimentos com potencial alergénio?

Ao introduzir alimentos com potencial alergénio, devemos ter em atenção alguns conselhos:

  1. Comece por oferecer pequenas quantidades do alimento com potencial alergénio. Uma reação alérgica será, em princípio, tanto mais grave quanto maior for a quantidade de alimento oferecida ao bebé. Experimente oferecer uma porção semelhante a uma colher de café. Espere 10 minutos. Se não houver reação alérgica continue a oferecer o resto da refeição ao ritmo habitual do seu bebé.
  2. Não ofereça o alimento ao final do dia. A maioria das reações alérgicas ocorre até 2 horas após a ingestão do alimento, muitas vezes em poucos minutos. De qualquer forma, escolha uma altura do dia em que seja possível acompanhar os comportamentos do bebé nas horas subsequentes.
  3. Introduza um alergénio de cada vez. Se assim não for, caso ocorra alguma reação, não será possível distinguir qual foi o alimento que a causou.
  4. Uma vez oferecido o alergénico deve continuar a expor o bebé a esse alimento regularmente.

Lembre-se:

  • A introdução alimentar só deve ser iniciada quando o bebé apresentar todos os sinais de prontidão (sentar-se bem sem apoio, segurar a cabeça, estar predisposto para mastigar).
  • Todos os alimentos, incluindo os supracitados com maior potencial alergénio, podem (e devem) ser introduzidos até ao 1º ano de vida, mas a introdução alimentar é uma maratona e não um sprint.
  • O risco do bebé ter uma reação severa na primeira vez que ingere determinado alimento é extremamente baixo.
Alimento Quando oferecer? Como oferecer?
Leite de vaca

Referência ao artigo

“Iogurte para bebé, sim ou não?”

6-12 meses

 

Iogurte, queijo pasteurizado ou em preparações a partir dos 6 meses;

Como bebida só a partir dos 12 meses

Frutos gordos +6 meses Em pó ou como manteiga 100% frutos gordos
Peixe

Referência ao artigo “Como e quando introduzir o peixe”

+6 meses Bem cozinhado
Marisco 6-12 meses Bem cozinhado
Ovos

Referência ao artigo “Como e quando introduzir o ovo”

+6 meses Começando pela gema bem cozinhada e só depois oferecendo a clara – cozido, como omelete ou adicionado a um alimento já tolerado. Há recomendações que não referem a necessidade de oferecer a gema e a clara em separado.
Soja +6 meses Numa pasta cremosa ou pressionando o grão com o garfo.
Trigo +6 meses Massa penne, pão tostado ou papa.

A que sinais de uma possível reação a um alimento devo prestar atenção?

Alguns sintomas comuns das alergias alimentares são inflamações na pele comichão, vómitos e/ou diarreia, inchaço da língua, dores de barriga, desmaio ou dificuldade em respirar. Se o seu bebé apresentar um ou mais sintomas após a ingestão deste alimento, não o ofereça mais, nem qualquer alimento que possa ter vestígios do responsável pela reação. Contacte o profissional de saúde do bebé e, caso a situação seja grave, não hesite em contactar o 112!

Não se esqueça que o mais importante é mesmo oferecer uma grande variedade de alimentos, sem medos e num momento tranquilo e divertido para todos! A saúde, o sistema imunitário, a microbiota e os sentidos do seu bebé agradecem! Fique de olho nele nas horas seguintes, dando importância a qualquer possível sintoma de uma alergia alimentar.

Leia os nossos artigos sobre:

 Como e quando oferecer o peixe.

 Como e quando oferecer o ovo.

 

Referências bibliográficas

  • West C. Introduction of Complementary Foods to Infants. Ann Nutr Metab. 2017;70 Suppl 2:47-54.
  • Órgão da Sociedade Portuguesa de Pediatria. Acta Pediátrica Portuguesa
  • Revista de Medicina da Criança e do Adolescente. Setembro/Outubro 2012.
  • SpoonfulONE. Preventing Food Allergies in Babies. 2022
  • Complementary Feeding: A Position Paper by the European Society for Paediatric, Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) Committee on Nutrition. Journal of Pediatric, Gastroenterology and Nutrition. 2017;64(1).
  • American College of Allergy A, and Immunology, American Academy of Allergy AI. Primary Prevention of Food Allergy Through Nutrition
  • The National Health Service UK. Introducing Solid Foods -giving your baby a better start in life.
  • ASCIA Paediatric and Dietitian Committees. Infant Feeding and Allergy Prevention. 2020.
  • Food Allergy Canada, Canadian Society of Allergy and Clinical Immunology. Early Introduction of Allergens: FAQS for families. 2019.
  • Alergia Alimentar Kids. Diversidade Alimentar e Prevenção de Alergia.

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